“Véi, não acredito”

Um jovem adolescente postou no começo da noite de sexta-feira a seguinte mensagem na sua página de relacionamentos pessoais. “Véi, não acredito. Eu conhecia essa menina”.

Era um comentário na notícia da morte de Helida Roque Silveira Goveia, de 17 anos, a 29ª vítima de crime violento contra a vida em Timóteo. O corpo dela foi encontrado caído em um lote vago da Pedreira, como é conhecida a parte do distrito de Cachoeira do Vale, município de Timóteo, na margem direita da avenida Belo Horizonte, saída para Jaguaraçu.

Sou do tempo em que a cidade era a mais sossegada do Vale do Aço para se viver. É estranho continuar a noticiar a violência que  cresceu assustadoramente naquele bom lugar.
Dessa forma, incrédulas, as pessoas vêm filhos, amigos, conhecidos e inimigos que são mortos a qualquer hora do dia e da noite. Será por que a vida tornou-se um elemento de pouca validade nos tempos atuais?

Há vários fatores envolvidos na questão. Um deles, a considerar, é a interrupção em um processo de combate ao crime na cidade. Prenderam os cabeças dos grupos criminosos, envolvidos com tráfico de entorpecentes, furtos e roubos.

Sem dinheiro, desarticulados e sem limites, jovens criminosos trataram de ocupar as lacunas criadas pelas prisões dos chefes. Não raro, a disputa termina em assassinatos.

Conforme um levantamento feito na primeira semana de dezembro, entre 26 homicídios da cidade, até então, apenas dois não tinham indícios de relação com acertos do mundo do tráfico.

Contramão

E se o tráfico de entorpecentes no Brasil fosse descriminalizado? Será quantos milhões o Estado deixaria de gastar nas operações mirabolantes, fiscalização e patrulhamento, feito por milhares de agentes policiais todos os dias, pagos com o dinheiro do contribuinte? E se esse dinheiro fosse investido em educação e resistência aos entorpecentes? 

Certamente, o dinheiro economizado nas operações para apreender buchinhas seria suficiente para o tragamento clínico dos que se tornarem dependentes dos entorpecentes. De certa forma, hoje já se gasta muito dinheiro público com as clínicas de recuperação.


Atualmente há um faz de conta tácito. A sociedade finge que é contra os entorpecentes, mas a maioria os usa, nem que sejam os legais, bebidas alcoólicas ou remédios, por exemplo (dos antidepressivos aos ansiolíticos consome-se de tudo). O Estado faz de conta que fiscaliza e a polícia faz de conta que combate o tráfico.

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