Observo com grande espanto que cresce a onda da
camarotização do litoral baiano. De Morro de São Paulo a Itacaré, de
Canavieiras a Belmonte, de Trancoso à Caraíva (Praia do Espelho) de Corumbau a
Cumuruxatiba, não tem faltado espaços reservados a uma classe que não se
incomoda em pagar R$ 15 por garrafa de cerveja (se é que pode ser chamada
cerveja o líquido com rótulos como Skol, Brahma e Itaipava).
Aos poucos, o acesso dos menos remediados à água salgada
fica restrita a recantos desabitados, quase que na condição de clandestinos.
Enquanto nativos sem capacidade de investimento e baixo
espírito empreendedor tratam de ganhar a vida como podem, com o duro trabalho
braçal, da pesca artesanal ou do cultivo rural e construção civil, investidores
vindo das cidades maiores do próprio estado baiano e até estrangeiros, têm
chegado, comprado imóveis a preços de banana e construído espaços suntuosos à
beira mar.
Nesses lugares o cliente é julgado pelo carro que estaciona
nas proximidades. Um nativo confidenciou que em muitos estabelecimentos,
clientes que desembarcam em carros com valor de mercado abaixo de R$ 100 mil é
visto como pouco atrativo.
O dono de uma simplória pousada me contava, assustado, que
no carnaval de 2015 uma luxuosa pousada lançou pacotes de R$ 7 mil e vendeu
todos. “A continuar a assim, nem o brasileiro remediado (classe média) vai
conseguir curtir o litoral”, sentenciou o comerciante.
De fato, o quilo do peixe de melhor qualidade (robalo), já
passa de R$ 30 nas peixarias. O quilo do camarão VG já chega a R$ 60. Enquanto
isso, a picanha é vendida a R$ 24 o quilo em qualquer mercadinho.
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