E ai, vai tarde?

Será que a vida dos macacos do “primeiro mundo” vale mais que a vida dos macacos do mundo em desenvolvimento?

Em um post na manhã desse sábado, o colega jornalista Marcelo Bolzan observava que num intervalo de uma semana, há muito mais dor e indignação com uma tragédia internacional – a dos atentados terroristas de Paris - do que com a catástrofe ambiental em Minas Gerais.

“Há, por exemplo, muitos e muitos artistas e personalidades espalhando mensagens e hashtags sensíveis aos ataques de Paris. Não vi nem a metade fazer o mesmo por Mariana”, escreveu o jornalista de boa cepa que não se produz mais por essas bandas do Vale do Aço.

Pondera o colega que os dois casos merecem atenção e que a tragédia ambiental em Minas não foi retratada pela grande mídia com o devido cuidado e agora terá menos espaço. 

“Os problemas por aqui estão longe do fim, muitos parecem desconhecer isso. Não podemos esquecer o tamanho da catástrofe. Mobilize-se por Paris, pela paz no mundo. Mobilize-se por Minas e pelo Brasil. A realidade também é cruel e triste em nosso quintal”, conclui o jornalista. 
Tratemos aqui de acrescentar mais, sobre as tragédias humanas de nosso quintal. Somente no Vale do Aço, balanço parcial mostra que bem mais de 128 pessoas foram assassinadas na RMVA até agora em 2015, e a maior parte dessas mortes vem de atentados promovidos pelo tráfico de drogas, que cresce sob as barbas do poder público, que não consegue mais controlar o mercado ilegal de entorpecentes.

Ou seja, vivemos um atentado muito pior do que o de Paris todos os dias e e são raras as vezes em que as pessoas se mostram indignadas com os jovens que se vão cedo. Lamentavelmente, sob textos da crônica policial diária é possível encontrar comentários de leitores que escrevem algo como “Menos um, ainda bem”. “Demorou para ir  sentar no colo do capiroto”, “um anjinho a menos”, ou “foi tarde”.

Quem comemora esquece que a cada vítima dessa guerra novas legiões de pequenos traficantes, sem amor à vida de quem quer que seja, se fortalecem pelas ruas e amanhã pode estar ao lado da janela do seu carro com uma “quadrada” na mão. E aí? Vai tarde?


Comentários