A teia que não podemos perder


Em “um dia frio (e chuvoso), um bom lugar para ler um livro”, cantado por Djavan na música Nem um dia, pode ser também um momento para uma boa meditação. E escrevinhação também. 

Não no sentido resumido, de escrevinhar, que significa escrever mal, à toa. Ao léu. É no sentido lato, de entreter-se a escrever, tal como o fez padre Anchieta no litoral capixaba do século XVI.

O amigo João Senna relata-me, de forma sucinta, do descanso merecido de veraneio, nas praias baianas, que encontrou um antigo professor universitário, que se diz preocupado com os rumos que a Língua Portuguesa tomou no Brasil.

A linguística faz parte dos estudos de Comunicação Social e todo jornalista deve saber que há uma diferença entre a linguagem corrente de uma sociedade, a formação de sentidos de sua comunicação e a língua formal de um povo. É normal que a linguagem corrente sofra mutações ao longo do tempo.

A preocupação, entretanto, surge quando começa haver um empobrecimento tão grande da linguagem em que até acadêmicos passam a limitarem-se à voz corrente, desconhecendo, inclusive, o básico do formal.

E não me refiro apenas aos erros de digitação tão comuns com o advento dos teclados dos computadores e smartphones. Faço referência à perda de fios importantes de uma teia que forma nossa comunicação.
Imagine se essa aranha começasse a perder os fios mestres de sua teia? É o que ocorre atualmente com a língua formal dos jovens nativos digitais do  século XXI, que começam a perder o sentido para explicar as coisas ao seu redor.
Será que vamos voltar aos sons guturais e símbolos nas paredes? Os emojis do WhatsApp mais me parecem a linguagem das cavernas.

O problema mostra seu gigantismo quando entramos na internet e descobrimos no Yahoo Answers (Yahoo Respostas) que alguém não sabe o significado de “vir à tona”. Como pode uma pessoa chegar a 25 anos mergulhada em um poço de desconhecimento vocabular?  Deve emergir de lá para saber que não tem nota no Enem para participar do Sisu.

Em outro episódio, um internauta não entendeu o que Milton Nascimento quis dizer  no verso "A Abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou". "Que porra é essa? PQP", argumentou o cidadão, em sua incapacidade de entender a metáfora na letra de Amor de Índio, de Beto Guedes, magistralmente interpretada por Milton Nascimento.

Poderia ficar aqui a relatar mil exemplos desses acima, mas paro por aqui. Vou ouvir agora, Cais, que está na sequência de Amor de Índio. “Tenho o caminho do que sempre quis. E sei a vez de me lançar”.

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