Tocável e perseguido

Diante de uma cobertura massiva da mídia brasileira na 24ª fase da operação Lava Jato, realizada sexta-feira (4/3), procurei algo menos fantasioso para entender a cinematográfica condução coercitiva do ex-presidente Lula para depoimento na Polícia Federal em São Paulo. 

Nas buscas percebi que, havia mais desinformação do que explicações. E tome especulação com insistentes afirmações que o dólar caia e as bolsas de valores subiam ao vento das notícias.

Nesta sexta-feira, pontualmente, nenhum jurista entendeu a condução coercitiva de Lula, porque normalmente ela é necessária somente quando um investigado é notificado e se recusa a comparecer para depor. "Tem sido praxe esse procedimento na Lava Jato, embora não seja o estabelecido em lei", alertou um jurista. 

Se não havia necessidade dos 200 homens para conduzir Lula para o depoimento, então, a intenção deste cenário armado foi exatamente a de mostrar ao país que o líder de um partido não é intocável. Escancarou-se a face partidária de um trabalho que deveria ser apenas técnico, da Justiça Federal. 
Foto: Letícia Macedo. Mídia e militantes cercam o carro na saída de Lula

O efeito real disso, entretanto, ainda há de se ver. O discurso de reação já está formulado. “Há o enfraquecimento da imagem de "intocável" que Luiz Inácio Lula da Silva sustenta há anos, ao mesmo tempo em que a operação da Polícia Federal abre ao ex-presidente da República uma oportunidade de consolidar uma imagem de "perseguido", afirma o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo, em entrevista à Folha de São Paulo.

O fato, em si, foi uma ação simbólica, quando o ex-presidente foi inquirido sobre o uso de um sítio em Atibaia e de um apartamento na capital paulista, imóveis reformados por empreiteiras que mantiveram negócios com o governo. 

O inquérito precisa provar que essas “benesses” concedidas ao ex-presidente e sua família foram resultado de “troca de favores”, “tráfico de influência” de forma direta pelo governo para prestadoras de serviços. 

A cinematográfica operação Aletheia (busca da verdade), visa provas de que Lula recebeu benefícios das empreiteiras OAS, Odebrecht e do pecuarista José Bumlai. Pagamentos dissimulados seriam propina decorrente de esquema na Petrobras. Entre esses dissimulados, está o famoso tripléx no Guarujá (litoral de SP), que foi reformado e recebeu móveis, num gasto que chegou a R$ 1 milhão. 

O MPF investiga a compra de dois sítios em Atibaia, no interior de São Paulo, pelo valor de R$ 1,5 milhão. Empreiteiras investigadas pagaram a Lula R$ 30,7 milhões ao Instituto Lula a título de palestras e doações. As investigações apuram se todos os gastos de empresas privadas com Lula saíram de recursos desviados em contratos com a Petrobras.  

Assim que saiu do depoimento, Lula foi para a sede do PT. Deu explicações, negou corrupção, conclamou a militância para as ruas e sustentou o discurso de perseguição midiática. 

Se não provar, não tem prisão, não tem condenação alguma. E em 2018 o "perseguido", "herói do povo brasileiro" terá força para nova vitória nas urnas.

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