Comemorar o que mesmo?

Os discursos que precederam os votos dos nobres deputados federais na Sessão Especial da Câmara, que avaliou a admissibilidade do impeachment, viraram combustível para os tais 'memes' nas redes sociais, quando viraliza na internet alguma postagem jocosa sobre algum fato cotidiano.

Depois do 'adeus quirida', originário do grampo telefônico da conversa de Lula com Dilma Rousseff, agora os discursos da sessão do impeachment é que recheiam as redes, sem se preocupar com qualquer conteúdo pragmático. "Em nome do meu pai, da minha mãe, da minha filha, que está grávida eu voto sim".

Mas nem tudo está perdido. Um dos deputados foi com a  agulha no fígado da mesa diretora quando afirmou que 'a sessão é presidida por um réu', em referência ao presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que é processado por atos de corrupção e investigado por envio fraudulento de recursos para o exterior.

E teve os que comemoraram nas ruas. Mas, comemorar o que mesmo? Sou a favor do fim da corrupção na governança pública e da irresponsabilidade com as contas públicas. Essa gastança para manter uma estrutura paquidérmica da máquina pública, tomada por empregos com salários elevados para os padrões brasileiros e palácios suntuosos tem que ter fim.

Defender mudanças neste sentido é cláusula pétrea, para mim. Mas sei de outra coisa também.  Quem comemora hoje esse resultado, amanhã vai chorar as medidas de austeridade despreocupadas de questões sociais. Basta ver o que tem ocorrido na Argentina e até na rica Inglaterra. 


Importante destacar, também, o fracasso do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), que não conseguiu mobilizar deputados nem de partidos aliados seus no estado para votar contra o impeachment. A bancada mineira votou  pela saída da presidente. De um total de 53 parlamentares,  41 sim e 12 não. O resultado mostra que a situação da sustentabilidade do governo mineiro pode ruir também.

Há quem diga que, nos bastidores, que não se pode considerar o resultado um 'fracasso' do governo Pimentel, uma vez que há informações (de cocheira), segundo as quais Pimentel,  'lavou as mãos' em relação ao assunto.

Ora, omissão é pior que fracasso. Aliás, em 2014 fui a Governador Valadares cobrir o lançamento das obras do campus da Universidade Federal de JF, justamente com a presença de Fernando Pimentel (então ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio). 

Depois do lançamento, ao chegar ao Teatro Atiaia, a comitiva teve que passar em meio a um grupo de servidores municipais, que, do lado de fora, entoava a música "companheiro é companheiro, filho da puta é filho da puta". 

Por fim, é engraçado ver na manhã de segunda-feira a ‘surpresa’ demonstrada por alguns brasileiros nas redes sociais, acerca do baixo nível da discussão na Câmara dos Deputados. Compreensível. Alienados com novelas, shows dominicais, BBB e outras asneiras, nunca acompanham a vida política. Nem do município, nem do Estado e tampouco em Brasília, embora isso seja notícia o tempo todo e transmitida ao vivo no Youtube, TV Câmara, TV Senado e TV Justiça. 

Agora, no momento de crise, surgem como aqueles que, ao ligarem a tv no domingo, acordam para a realidade sobre o nível daqueles que elegemos de quatro em quatro ano para nos representar. 

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