A verdadeira ponte queimada

Em andanças de raro momento de descanso da lida diária no Vale do Aço, circulava por estradas rurais no entorno do prosaico distrito de Cumuruxatiba, município de Prado, no Sul da Bahia, quando sem placa nem aviso de qualquer natureza, deparei com uma ponte queimada.

Trata-se de uma ligação alternativa, entre a estrada de Corumbau e fazendas localizadas nos arredores da vila de pescadores, à beira do Oceano Atlântico.

Contaram os moradores que, no fim de 2015 o proprietário de uma fazenda, herdeiro de posseiros de uma terra devoluta entregue a colonos nos anos 1970, entrou na justiça contra a invasão de sua propriedade, por índios Pataxó, abundantes aqui nesse pedaço do Brasil.  
Foto: Alex Ferreira. Ponte queimada em estrada rural de Cumuruxatiba
Assim como fizeram com outras glebas de terras aqui, os índios ocuparam as terras que eles consideram desocupada e iniciaram atividade da agricultura e construção de casas em alvenaria. 

Nessa empreitada, entretanto, os indígenas não conseguiram a demarcação das terras. Tiveram que desocupar metade da área cujo domínio é da propriedade alvo da ação judicial. Na outra metade, separada apenas por uma estrada municipal, restam algumas casas e uma escola da Aldeia Kaí.

Embora não se veja nada além de pés nativos de mangaba, na propriedade, a terra foi reintegrada e os casebres dos ocupantes derrubados.

Revoltados, os índios queimaram a ponte em uma das estradas. No conflito agrário envolvendo posseiros e o povo Pataxó em Prado, uma VW Kombi foi cercada por homens armados e incendiada. O que sobrou do veículo encontra-se até hoje à margem de uma estrada rural.

Na época desse atentado, em 24 de setembro de 2015, outra ponte de madeira foi queimada, na estrada que liga Prado a Cumuruxatiba. A estrada recebe tráfico intenso entre a sede a vila e a ponte teve que ser reconstruída às pressas.  Veja vídeo de uma das pontes que permanece queimada até hoje: https://youtu.be/vKs7ULppZsU

Por fim, é bom lembrar  que, em 22 de abril de 1500 teria aportado bem perto daqui, uma embarcação que teria se desgarrado da frota de Pedro Álvares Cabral e vindo ao rio Cahy apanhar água doce, antes que seguissem para o norte em busca de um porto seguro para aportar, visto que essa região é marcada pela presença de grande barreira de corais. Essa referência está nos escritos de bordo da frota portuguesa. 

Impressiona o fato de terem se passado exatos 516 anos e ainda exista, na região, escaramuças envolvendo os povos que aqui já estavam quando chegaram os europeus. 

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