A vingança é um prato que se come no calor de uma delação

Muitas pessoas não entenderam porque, no dia 18 de maio, havia um tom de fina ironia nos textos jornalísticos publicados acerca da prisão da jornalista e articuladora política Andrea Neves da Cunha, irmã do senador afastado Aécio Neves. Ela foi recolhida ao cárcere na operação Patmos, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, delatada por ter ido buscar o dinheiro negociado entre Aécio e um dos irmãos Batista, os donos da JBS, delatores da República.
Andrea Neves, presa na Operaçãp Patmos, da PF, no dia 18 de maio de 2017
Andrea sempre foi considerada em Minas Gerais como a criadora do mito por traz do homem chamado Aécio Neves. Embora não estivesse com o rosto à frente da mobilização política, nos bastidores atuava com ferocidade. E muitos que se colocaram em seu caminho sofreram as consequências por confrontar os interesses do Palácio da Liberdade, antiga sede do governo mineiro.

Atribuem a Andrea a instituição de uma máquina de comunicação e propaganda para manter a imagem de Aécio intacta e em alta até as eleições de 2010. O projeto de poder, iniciado em 2002, colocou a cobertura jornalista do governo mineiro sob censura. Só se podia trabalhar com pautas positivas. 

Casos de jornalistas que ousaram quebrar essa regra, ou foram demitidos ou ameaçados e obrigados a adotar como conduta a auto-censura, como forma de sobrevivência.

Quem assistiu ao vídeo do momento em que Andrea Neves deixava a sede da Polícia Federal na capital mineira, para ser levada ao Complexo Feminino da Penitenciária Estevão Pinto, na região Leste da capital mineira, certamente escutou alguns jornalistas questionarem: “A pauta é boa, Andrea?”. “Essa pauta está boa, Andrea?”.

Fizeram a ela a pergunta que ouviram muitas vezes, ao chegar ao palácio do governador que queria ser imperador. Essa foi uma vingança, ou revanche, comida ao calor das delações. Segure as pontas, Brasil.


O modelo de agenda positiva do Aécio foi copiado e espalhou-se pelo interior, na forma de assessores de prefeitos e vereadores que devem ter achado fácil a prática do cerceamento em troca de minguadas verbas publicitárias para as empresas.

Por causa dessa prática, condenável, não foram poucos os embates entre jornalistas e assessores de governos municipais, inclusive, no Vale do Aço. O mais lamentável é que jornalistas elevados aos precários cargos de assessores também foram cruéis com colegas, em alguns casos, até antigos amigos da profissão.

Que sirva de exemplo. O ostracismo – ou as grades – aguarda aqueles que um dia pisoteiam o quintal onde eram recebidos antes do poder.

Comentários

  1. Só uma observação, meu nobre colega. Vingança não é Justiça. E não resolve nada. Abraço. Marcos.

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