Livro de caratinguense relata os bastidores dos primeiros anos da Operação Lava Jato |
"Lava Jato" mostra como as autoridades avançaram rápido, começando pelos negócios de uma rede de doleiros, até a descoberta de um vasto esquema de corrupção em que políticos e empreiteiras se uniram para desviar recursos da Petrobras e de outras estatais. Lamentavelmente a Lava Jato tratou de casos recentes, embora alguns dos depoimentos mostrem que o esquema sangrava os cofres públicos há muitas décadas.
Premiado repórter da TV Globo, que participa da cobertura do caso desde o início, o caratinguense Vladimir Netto narra detalhes além dos que foram divulgados nas reportagens dos impressos sobre a Lava Jato. O jornalista faz questão de narrar na terceira pessoa e explica no posfácio sua decisão de não usar a primeira pessoa, uma vez que é testemunha ocular dos fatos narrados: “jornalista não é notícia”. Foi ótimo ler essa explicação, pois esse princípio basilar do jornalismo parece ter sido esquecido por muitos comunicadores da atualidade, quando vemos muitos tentando ser mais importante que a própria notícia que publica.
O autor é natural de Caratinga e acompanha, em Brasília o desenrolar da Operação Lava Jato |
E a voltar ao livro, a sua leitura nos leva a algumas conclusões. Primeiro, tudo o que se conhece dos escândalos de corrupção é pouco, em relação à realidade da atuação de corruptos e corruptores. As decisões, tanto do Ministério Público Federal quanto da Justiça Federal poderiam ter alcançado mais políticos do que alcançou.
O juiz Moro é apresentado como o herói da história, o que se evidencia pela capa do livro com a foto do magistrado em um ângulo que lembra uma escultura romana de mármore. O ministro Teori Zavascki, responsável pelos inquéritos no Supremo Tribunal Federal, é apresentado ao leitor como um “deus infalível”.
O livro, editado em 2015, não relata a estranha morte de Zavascki, ocorrida em uma queda de aeronave no litoral do Rio de Janeiro, em janeiro de 2017.
Por se esforçar em apresentar a Lava Jato como algo perfeito, não é de se estranhar que haja omissões na publicação, entre elas, contradições entre delatores, vazamento seletivo, decisões judiciais cuja legalidade é questionada (por exemplo, quebra de sigilo de escuta telefônica envolvendo familiares de investigados) e manipulação partidária de movimentos que foram para as ruas pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Enfim, o livro traz a narrativa apenas dos anos iniciais de um trabalho que se iniciou em 2009, com a investigação de crimes de lavagem de recursos relacionados ao ex-deputado federal José Janene, em Londrina (PR), e que se estendeu para praticamente todos os estados e partidos políticos. Pode ser que as próximas edições tragam respostas às questões ainda não respondidas.
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