A indignação direcionada da massa ignorante

No dia 31 de outubro o governo anunciou uma medida polêmica e de difícil digestão popular. O salário mínimo teve reduzida sua estimativa para 2018, de R$ 969 para R$ 965 reais. Há uma notória intenção de reduzir o custo do salário mínimo, atualmente em aproximados US$ 286.

Já no dia 3 de novembro o governo anunciou o aumento de 4,5% no preço do gás de cozinha.

Desde o dia 5 de julho, quando a Petrobras anunciou uma nova política de reajuste nos preços dos combustíveis, o preço do gás de 13 quilos, que está presente do barracão no morro às mansões brasileiras, o gás já subiu 54%.

Era preciso “abafar” junto à massa popular elementos tão negativos. E o combustível perfeito foi o caso da ministra Luislinda Dias de Valois Santos, de 75 anos. 


A baiana, que é aposentada do Tribunal de Justiça daquele estado, teve a infelicidade de reivindicar o acúmulo integral do salário como ministra com o salário de aposentada.

Hoje, Valois recebe o teto permitido pela Constituição: R$ 33,7 mil. Do valor, R$ 30.471,10 é referente à aposentadoria por ter atuado como desembargadora e R$ 3.292 é por atuar como ministra. Caso acumulasse os dois salários seus proventos mensais passariam de R$  60 mil.

Negra, nordestina, titular de uma pasta que cuida de um assunto controverso junto à massa ignorante, autora assumida de declarações infelizes, Valois foi o alvo perfeito para desviar o foco sobre duas notícias muito ruins  nesta semana.

Tanto, que, neste sábado, uma pesquisa no buscador Google sobre redução do salário mínimo retornou apenas uma notícia em destaque. A mesma pesquisa sobre o gás de cozinha retornou duas notas. Já a pesquisa sobre a ministra preencheu uma página inteira na tela.

Pode-se dizer que hoje ninguém está indignado com o aumento no preço do gás e com a redução do salário mínimo. Entretanto, a maioria replica nas redes sociais sua ira contra as polêmicas declarações da ministra.

Essa é a nova ordem das coisas. Agendar sempre o pior assunto para desviar o foco de outro pior, principalmente quando esse pior é o fundo do poço.


Sem ruídos, a Agenda Setting Theory, formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw há 40 anos é um recurso antigo, aplicado com a ajuda de novos instrumentos - as redes sociais do século XXI. 

Primeiro, noticia-se algo a partir de meios supostamente sérios. A mídia tradicional é a porta de entrada. Depois, divulga-se nas mídias sociais, com ares de escândalo. 

Agenda Setting Theory agora com novas aplicações a partir do uso as redes sociais

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