O dia em que uma galinha derrubou um ciclista


Uma fratura leve, no úmero esquerdo, foi a recompensa por desviar-me de um franguinho que, na manhã de domingo (15/4), assustou-se com minha passagem de bicicleta logo depois da ponte nova, no contorno rodoviário da BR-381.

O infortunado ciscava com seus pares, que saíram em desabalada carreira, seguindo uma galinha rumo ao mato, quando me aproximei pelo acostamento. Um frangote branco, entretanto, começou a correr em paralelo desgarrado dos demais.

Eu, que pedalava a favor do vento, a 35 km/h, já começava a reduzir para convergir a uma passagem para entrar em Timóteo. Estava a 12 km/h quando, para evitar o atropelamento da galinácea, decidi mudar-me de faixa no acostamento. Pedalava na parte baixa e quis subir um desnível de 5cm deixado por uma obra porca, de recapeamento.

A testa desse desnível é facilmente percorrida por pneus travudos raio 29 de uma Mountain Bike, se não tiver lodo acumulado com a chuva e debaixo de árvores. Pois lá tinha lodo e eu não percebi. Perdi o controle dianteiro e me esborrachei no asfalto. Nada estragou na MTB Elite 30. Eu tive a fratura leve e escoriações no braço esquerdo.

Aprendizado

Ao passar de 40 anos é fácil para um homem proativo ter lembranças das quedas ao longo da vida. Ou tentativas de ser derrubado. Mas é preciso ter consciência que essa é uma condição à qual está sujeito quem toma iniciativas.

Muitas quedas feias são evitadas quando se tem créditos de honestidade e virtudes que não precisam ser propaladas aos quatro ventos, mas demonstradas em pequenas práticas cotidianas. Para essas eventualidades é bom seguir o exemplo dos elefantes, que tiram somente um pé de cada vez do solo, e seguem firmes. Raramente caem, mas se decidem correr, ninguém fica na frente.

Ademais, somente quem se move corre risco de cair. Nessas horas amigos e aqueles dos quais se toma confiança são maior valia, senão a única. Eu nunca estive na zona de conforto. E toda vez que estive perto do chão, fui como uma semente. Tive forças para germinar.

Portanto, fica o aprendizado: Você pode sobreviver a bem engendrados planos de sabotagem, sair bem de todos e ainda ficar fortalecido. Mas pode cair diante de um inocente frango assustado. Sabe a diferença? A maldade, que existe na primeira situação e inexiste na segunda. Percebe-se de longe a maldade e a defesa é ativada.
 
Caetano (D), eu que segurava para o braço não doer mais e Roldão, ,mais o colega ciclista  

Socorro

Por fim, preciso relatar a sequência de coincidências salvadoras pós-acidente, na manhã de domingo. Atravessei do contorno para a avenida Emalto entorpecido pela dor e preocupação. Meu objetivo era o terminal rodoviário de Coronel Fabriciano, a 500 metros, onde pretendia encontrar um táxi para me levar para casa com a bicicleta.

Mal havia chegado à cabeceira da ponte Mariano Pires, quando me alcançou o Antônio Caetano, um pioneiro do MTB em Timóteo. O professor insistiu em me acompanhar até a rodoviária e o logo passou a empurrar minha bike e a dele.

O Marcão Terra, outro bruto, também passava por lá se ofereceu para resgatar a minha bike, caso precisasse embarcar em um carro e não pudesse levá-la. 

E assim que atravessamos a ponte apareceu o Túlio Carvalho, outro grande ciclista, que diante da informação do perrengue anunciou que pararia seu passeio dominical e buscaria sua picape em um bairro vizinho para me levar a Ipatinga.

Enquanto aguardava o socorro do Túlio ainda passou pelo local de espera, na boca da ponte, o também pioneiro dos pedais, Roldão Magalhães, acompanhado de outro ciclista cujo nome não guardei na lembrança. Portanto, foi um domingo de sorte. E de amigos que ajudam. Agradecido a todos.


De tudo, ficar na tipoia imobilizadora, por 4 semanas, é o pior dos castigos para quem tem por hábito colocar tudo para girar diariamente às 6h, pontualmente.

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