O fanatismo que sufoca o debate

Nunca estivemos tão no fundo do poço no debate político-eleitoral. Lembro-me bem a conversa na Praça 5 de Novembro, centro da minha cidade natal, Manhuaçu, quando ainda jovem víamos a massa alucinada carregar o então candidato à Presidência pelo PMN, Fernando Collor de Melo, que seria eleito em 1989, derrotando o candidato Lula, com quem polarizou a disputa.
 

Na sequência, o resultado seria desastroso, pois Collor engendrou um dos mais cruéis planos econômicos, do País. Com o dinheiro nacional desvalorizado, o que se recebia não valia nada. O salário mínimo era bem abaixo de 100 dólares.

O presidente sofreria um processo de impeachment e renunciou em 29 de dezembro de 1992, antes de ser degolado no plenário do Congresso Nacional. À época havia um debate em alto nível e nas ruas os “caras-pintadas” com o “Fora Collor”, eram notícia no Brasil e no Mundo.

Mas 30 anos depois, o debate em torno da polarização política escambou para o mais baixo nível. De facadas a invasão de perfis nas mídias sociais, já tivemos e tudo. É flagrante o desrespeito ao outro e,
 os menos temerosos, exibem suásticas, num posicionamento anacrônico sem igual. 

O problema é que, diferentemente de 1989, parece que ao discutir com alguém você conversa com um poste, incapaz de conceituar cinco pontos de um governo de linha direitista ou cinco pontos conceituais de um governo esquerdista. 

Inventaram até uma suposta ameaça comunista. E repetem sem parar: “comunismo”, “comunista”, “socialismo”, “Venezuela”, “bandido-bão-é bandido morto”, “quero uma arma para defender minha família”, “sou contra o aborto” – como se homem entendesse de uma questão que diz respeito à uma decisão de uma mulher. E falam sem parar, mas o caboclo não tem argumento, não tem retórica, não tem nada. E cansa a quem escuta.  Decisivamente, o aloprado de direita é tão nocivo quanto o aloprado de esquerda. Eles se igualam no mesmo grau. 

Misericórdia, o debate retrocedeu à segunda metade do século XX?. Vim para o século XXI sonhando com um mundo melhor e acordei no meio da guerra fria dos anos 1970? ou zumbis adormecidos daquela época estão circulando entre nós?. Nunca vi tanta ignorância.

Como bem pontuou o economista José Pio Martins, "Debate sem conhecimento é um exercício de ignorância especializada, que não serve para resolver problemas complexos".

E no fim de semana quando eu disse que não votaria em determinado candidato, nem morto, logo me rotularam: "Ahhh então você é 13". 

É como se não existissem outros 11 candidatos a serem escolhidos para a Presidência. Mexer com um cego pelo fanatismo não é tarefa agradável.

Mas insisti em responder que não, não era 13, e fui explicar que eu apenas estudei e não me considero rico para votar em político que prega o Estado Mínimo. 

A aplicabilidade da filosofia econômica da Escola de Chicago em países em desenvolvimento é questionável e todas as experiências feitas até hoje mostraram-se desastrosas.

Eu já vivi o bastante para saber que existiu um período em que as pessoas eram privadas de ter o mínimo do mínimo, não importasse o quanto trabalhassem. E não pensem que me refiro a qualquer momento. Isso teve fim em 1994, com o plano Real, em vigor até hoje.

E o interlocutor parece ter um toca-discos com agulha quebrada, incrustado na garganta, e só repete o trecho que cita apenas o número de um tal candidato. Não tem debate de ideias, mesmo. 

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