Cinco formas de não ser manipulado na era da pós-verdade

Rolar a tela de qualquer mídia social nos dá a medida de uma situação que deveria preocupar a muitas pessoas. A quantidade de informações falsas disseminadas, sobretudo por políticos, é um crime que precisa ser combatido.

Querem criar o pânico, gerar medo e depois apresentar a solução. Essa é uma tática mais antiga que a Terra, mas com a internet, replico aqui Humberto Eco, “o imbecil da aldeia” agora tem um smartphone.

E na velha toada de uma mentira repetida mil vezes, vira uma verdade, vemos gente vociferando o tempo todo, tentando convencer alguém de alguma coisa mentirosa.

Esse é um ponto em que a verdade já não importa mais. Os pesquisadores da comunicação contemporânea a chamam de era da “pós-verdade”.

O que é isso? Na hora de criar e moderar a opinião pública, os fatos subjetivos têm menos influência que os apelos às emoções e as crenças pessoais.

Hannah Arendt afirma que “a mentira constante não serve apenas para enganar. Seu verdadeiro propósito é destruir a noção de verdade”.

Então é isso. “Quando um povo não consegue mais distinguir entre o real e o falso, também perde a capacidade de discernir entre o bem e o mal”.

E um povo assim, desarmado de senso crítico, torna-se uma presa fácil para aqueles que desejam governá-los. Controlá-los. Um povo que já não acredita em nada pode ser levado a acreditar em qualquer coisa.

E nesse estado de submissão silenciosa pode se fazer com ele o que bem entender. Não é por acaso que determinadas correntes políticas trataram de desmontar a grade curricular que incluía filosofia e sociologia nas escolas. Filosofia e sociologia aguçam o senso crítico. Dominantes não querem senso crítico, por razões óbvias. 
Numa era em que as emoções se sobrepõem aos fatos reais, a humanidade nunca foi tão manipulada. Foto Alex Ferreira/Escultura "Os Sentinelas", Belo Horizonte


O que nos resta?

Nesse cenário que parece não ser dos melhores cabe a cada um adotar ações cotidianas para não cair na rede da manipulação, seja de “direita”, seja de “esquerda”. Mas nem tudo está perdido. O jornalista Luciano da Luz, do site "Iluminismo/luz em tempos de trevas" nos guia pelas vias, em cinco pontos, para não sermos reféns da pós-verdade:

1) Reeduque o olhar e a escuta. Aprender a ler criticamente, verificar fontes, desconfiar no óbvio e no viral, desconfie do “senta o dedo e compartilhe”. Isso vale para notícias, vídeos, discursos e até para a sua própria intuição, que também pode ser facilmente manipulada por narrativas emocionais.


2) Recupere o diálogo honesto. Conversar não para vencer, mas sim para compreender. As bolhas de opinião nos isolam e reforçam ilusões. Reabrir pontos de diálogo é um ato de resistência e também uma cura social.


3) Valorize quem trabalha com a verdade. Jornalismo responsável, educação crítica, ciência e arte, todos são pilares da verdade compartilhada. Apoie quem se dedica a isso, mesmo quando é desconfortável ouvir, é fundamental.


4) Reaprenda o valor do silêncio e da dúvida. Em tempos de muito ruído, silêncio é poder. Dizer não sei é um ato de coragem intelectual. A dúvida sincera é o antídoto contra a manipulação.


5) Reconstrua o sentido do bem comum. A mentira prospera quando cada um vive a sua verdade particular. Tem que lembrar que a verdade é um bem público que serve à convivência, à dignidade e à justiça. Esse é um desafio para que resgatemos o tecido da nossa civilização.

Comentários