O negacionismo à beira da estrada

Os dados do Ministério da Saúde, divulgados no fim da tarde de domingo (24/5), mostram que o Brasil tem 363.211 casos confirmados da covid-19, doença causada pelo coronavírus, e 22.666 mortes atribuídas à doença. Os casos recuperados (recuperados porque a doença não tem cura) somam 149.911.

O Brasil já é o segundo país do mundo em mortes pela doença (mesmo levando-se em conta a população de 212 milhões de pessoas) e o cenário futuro é incerto.

Nesse contexto o país enfrenta outro desafio: o negacionismo da gravidade da doença. Tendo em vista que negar uma realidade não muda os fatos, quem tem um mínimo de bom senso tenta entender essas anomalias.

O fato é que, retornar de um pedal no domingo parei em um estabelecimento comercial à margem da BR-381 para comprar água e um pão de queijo e assim vencer mais 40 quilômetros para chegar a Ipatinga, quando me deparo com a seguinte situação.

Era hora do almoço e o restaurante estava lotado. Além de caminhoneiros e famílias que viajavam pela rodovia e foram lá fazer uma refeição, havia também trabalhadores das obras de duplicação da BR-381 nas proximidades.. 

O banheiro não tinha mais sabão para lavar as mãos. Não havia álcool em nenhum lugar e ninguém, dos atendentes no balcão até os clientes, ninguém usava máscara facial.

No balcão o proprietário atende de forma objetiva e rapidamente o assunto cai na pandemia:

- Decidiu dar uma pedalada para manter a saúde?, perguntou.

- É, sai sozinho para evitar aglomeração. Todos precisamos fazer nossa parte para evitar essa contaminação.

- Nada, tenho um filho médico que me disse para tomar cuidado, mas não tem ninguém morrendo nem internado por causa desse vírus nada não.

- O senhor acredita mesmo nisso?, perguntei

Nesse ponto o homem que aparenta ter em torno de 60 anos franziu a testa, mudou a expressão totalmente e afirmou com convicção:

- O que tem é só manipulação. Inventaram essa pandemia para desviar dinheiro público e para tentar tirar o presidente Bolsonaro, é só isso. Estão inventando que é covid-19 para justificar qualquer morte. Cada corpo é R$ 12 mil reais que entra (não falou onde entra). Estão enterrando até pedras no lugar de corpos dentro dos caixões.

Ainda tentei argumentar que esse caso de pedras em caixões, mostrado em um vídeo de notícia falsa como sendo de paciente da pandemia, era na verdade uma investigação de fraude em seguro, de 2017, mas o comerciante não quis ouvir e seguiu com o discurso:

-  Só divulgam números mentirosos. Tudo invenção. Não tem isso tudo de mortos e doentes não

- Mas o senhor precisa entender que o Ministério da Saúde é um órgão do governo federal e não iria mentir com os números oficiais, argumentei.

- Tudo manipulação. A OMS (organização mundial de saúde) é tomada por comunistas, que querem dominar pelo globalismo. Tudo faz parte dessa farsa, insistiu.

- Bem, tenho que ir. Disse ao terminar o pagamento pela água e o pão de queijo.

Comi rapidamente, reabasteci o cantil com a água para a viagem enquanto observava uma mulher gravida que terminava o almoço, um casal com uma criança que insistia em sair do colo e ir para o chão e operários que, despreocupados palitavam os dentes antes de retornar ao batente. Apenas um casal terminou a refeição, colou as máscaras, foi ao balcão, pagou a conta, entrou no carro e foi embora. Segue a vida..

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