Não seja mais um bobo a sair de casa hoje

Todo dia sai um bobo de casa, já dizia um amigo. Mas vendo as filas nos postos abastecimento quando houve ameaça de desabastecimento com a greve dos tanqueiros (transportadores de combustíveis) e filas em supermercados em cidades onde o governo anunciou que esses estabelecimentos ficariam fechados aos domingos, no âmbito das ações para restringir a circulação de pessoas e com isso a infecção pelo coronavírus, vejo que o número de bobos (ou inconsequentes) aumentou muito e tem saído diariamente bem mais que um de casa. Misericórdia.

Este nosso país parece ter sido tomado por uma onda de burrice (com o perdão dos asininos e muares). Será que fomos atingidos por uma onda (ou bomba) de programação neurolinguística (PNL)?

Uma bomba de PNL que teve a capacidade de remover de uma boa parte dos brasileiros uma coisa que se chama RAZÃO. Razão, no conceito filosófico, que é a capacidade moral e intelectual dos seres humanos e também a propriedade ou qualidade primordial das próprias coisas.

Não é possível que em plena pandemia as pessoas ainda lotem bares, restaurantes ou festinhas particulares, bailes clandestinos, pasmem. Não é possível um trem desses.  

Não é possível que essa gente não se sensibilize com 312.206 vidas levadas pela covid-19 (até 28/3/2021) e 12,5 milhões de infectados pelo coronavírus desde março de 2020. 

Há 41 anos Raul Seixas cantava “Hey, anos 80, charrete que perdeu o condutor”. Se vive estivesse poderia Rauzito adaptar para anos 2020, sem promessas de amor e gente afirmando o que não deveria afirmar. Já perceberam que há um “comando central”, disparando mensagens ardilosamente pensadas para enganar os incautos? São comparações esdrúxulas do tipo “ninguém mais morre de dengue?”, “não se morre por outra doença?”. E os imbecis caem na replicação dessa publicidade da necropolítica.
Pessoas fazem fila em porta de supermercado após decreto que estabeleceu fechamento de estabelecimentos aos domingos

Aí você vai ao supermercado e chega lá encontra famílias inteiras fazendo compras, despreocupadas. Não era para ter ido só uma pessoa buscar alimentos? Qual o sentido de sair na avenida 28 de Abril, principal via comercial da cidade de Ipatinga, levando bebês a tiracolo? Será que não estão sabendo que as variantes do vírus agora atacam crianças e pessoas mais jovens não têm resistido? E isso quando encontram vagas em UTIs, porque estão todas lotadas e a fila de espera por um respirador se alonga.

E também proliferam as pessoas em louvores em frente a hospitais. Está certo. É bom ressaltar que crer nos dá força para continuar a lutar. Passou disso são ótimas cenas comoventes para vídeos de mídias sociais.

Entretanto, não adianta crer e ficar apenas nisso. A crença em Deus só vale se vier acompanhada de ações morais, práticas, para enfrentar essa dura realidade, da luta contra algo que é invisível a olho nu, mas que todo dia leva embora a vida de alguém que conhecemos, de todas as cores de pele, de todos os níveis financeiros e intelectuais.

A pandemia de covid-19 veio nos mostrar o quanto nós, humanos, somos fracos nesse planeta. Já repararam que dentre os animais somos os únicos desse lugar que estamos nos lascando com um vírus? Todos os demais animais estão lá fora, livres e soltos, enquanto nós estamos sendo convocados – há um ano - a ficarmos trancafiados.

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