O dia em que a imprensa do interior se sobressaiu à grande mídia

A queda do avião em Caratinga, na tarde de 5/11, que resultou na morte da cantora sertaneja Marília Mendonça, do seu produtor, Henrique Bahia, do assessor e tio da cantora, Abicieli Silveira Dias Filho, do piloto Geraldo Martins de Medeiros Júnior, e do copiloto, Tarciso Pessoa Viana, deixou algumas lições para a imprensa. Para todos os comunicadores sociais. 

Bimotor perdeu altitude, atingiu cabos da rede de transmissão de energia e caiu em uma cachoeira do córrego do Lage, a quatro quilômetros do ponto de pouso, no aeroporto de Ubaporanga

Com uma estrutura dinâmica para a cobertura jornalística online, o repórter Lucas Vieira, do portal Super Canal, de Caratinga foi um dos primeiros a chegar no local da queda do avião bimotor PT-ONJ modelo C90A King Air da Beech Aircraft, em uma cachoeira do córrego do Lage, a aproximados 4 quilômetros aéreos do local onde pousaria. O ponto da queda fica em um condomínio perto da estrada que liga à cidade de Piedade de Caratinga. 

De lá, nos limites das condições que o sinal de telefonia permitia, o jornalista abriu uma transmissão ao vivo pelo Facebook, e passou a narrar, desde as 16h, a cena do acidente. 

O avião estava todo fechado, a cabine bem conservada e, somente depois de alguns minutos da transmissão, aparecem no vídeo os primeiros membros das equipes de resgate, que descem um terreno íngreme e fazem a ancoragem para evitar o risco de o avião ser carregado pela correnteza do córrego. 

O vídeo do Supercanal deixava evidente que todos os ocupantes do avião ainda estavam lá dentro e o repórter assegurava isso na transmissão, o que se confirmou por volta das 17h30 quando começaram a ser retirados um a um os cinco corpos dos ocupantes da aeronave. 

Enquanto isso tudo ocorria, a mídia nacional deixou-se levar pela versão oficial atribuída à assessoria da cantora segundo a qual todas as cinco pessoas tinham sido retiradas com vida e levadas para um hospital em Caratinga.

Digo deixou-se levar pela falsa informação porque os ilustres colegas não quiseram acreditar na transmissão ao vivo, feita pelo competente repórter Lucas Vieira e compartilhada aos borbotões. As imagens na live via Facebook gritavam contra a versão equivocada que a grande imprensa veiculava. Ainda depois que os corpos foram retirados e se confirmou que Marília Mendonça estava entre as vítimas, a versão equivocada ainda ecoava entre os leitores, telespectadores e internautas. 

Mãos trêmulas 

Foi um fim de tarde de uma luta inglória. Seis profissionais que trabalhavam na atualização do site diariodoaco.com.br e produção do jornal impresso de sábado pararam tudo o que faziam às 17h05. 

A redação do Diário do Aço conseguiu confirmar junto a uma fonte irretocável, às 17h05 que todos os ocupantes do avião tinham morrido, dentre eles a cantora e que, a nota oficial da assessoria não tinha procedência. Não havia sobreviventes. Com as mãos trêmulas, cada um da equipe tratou de apurar uma parte da história e um texto foi publicado confirmando a tragédia. 

A publicação dessa informação confrontou a inverdade publicada pela mídia nacional. Entre as mais de 15 mil pessoas conectadas simultaneamente no diariodoaco.com.br e outras milhares conectadas via perfil oficial no Facebook, Instagram e Twitter, a maioria acreditou. 

Entretanto, outros tantos não acreditaram e, escorados na informação errada da grande mídia, atacou de forma virulenta o jornal. E pior, mesmo depois que o fato divulgado se confirmou oficialmente, esqueceram de ir apagar os comentários raivosos, que agora são alvo de desmentidos e contra-ataques. Estão lá até agora passando vergonha. 

Em resumo, o episódio reforça uma tese antiga que tenho. Confie em assessoria, mas também desconfie. Cruze dados. Observe um vídeo ao vivo feito por um canal de comunicação do interior, mas que está de fato no local. O dia 5 de novembro de 2021 foi marcado por mais uma tragédia nacional, mas também pelo dia em que a imprensa do interior sobressaiu-se de forma brilhante aos grandes veículos de comunicação. 

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