O dicionário Priberam, da língua portuguesa grafa o vocábulo “catarse” como sendo a palavra pela qual Aristóteles designa a "purificação" sentida pelos espectadores durante e após uma representação dramática.
Para a psicanalise é o “método psicanalítico que consiste em trazer à consciência recordações recalcadas”.
E catarse é o que tem ocorrido nas manifestações dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Há muitos anos o Brasil não via uma entrega de almas a um líder político, como tem ocorrido agora. Nem com Lula essa entrega teve a energia que os seguidores de Jair emanam.
E sem limites para demonstrar a ignorância, sem noção da vergonha de expor um revólver gigante esculpido em isopor e fibra puxado por um Chevrolet Camaro amarelo, carregar pombos pintados em verde e amarelo para soltar durante o discurso do líder (já vi pessoas sendo presas por algo parecido, considerado crime ambiental). O mais incrível é que isso seja atração numa “Marcha para Jesus”. Como assim, gente de Deus?
A escola falhou de forma assustadora nas últimas décadas. Como pessoas saíram do ensino médio, técnico ou superior com tanta falta de conhecimento? Quais experiências práticas elas tiveram que as levaram à aceitação de ficar no lugar da formiga que vota no tamanduá, sem ter noção disso?
Pode ser compreensível dentro do conceito extremista segundo o qual o povo precisa de um gatilho para reagir. Então, apontar inimigos imaginários para manipular a opinião pública, impor o medo e ganhar a adesão e esperança em um "salvador", um "mito", um "herói" é uma receita antiga. E a disseminação de mentiras encontra campo fértil onde falta conhecimento e a razão.
O delírio da massa diante de declarações do líder político, das afirmações contra um “comunismo” imaginário que trará “tempos sombrios”, a tal luta do “bem contra o mal”, a luta para a escolha entre a “liberdade e a escravidão” é uma situação à parte.
Visto de fora esses eventos todos poderiam causar estranheza, caso o observador não se lembre que, permeadas a essa catarse estão situações como defesa das teses da terraplana, da anticiência, da antivacina e outras derivações de uma loucura nunca antes vista.
Visto de dentro, um observador mais atento poderia facilmente perceber que por traz de toda essa cortina de fumaça estão bem posicionados os grupos econômicos interessados em acumular a riqueza no topo da pirâmide social.
O grito em torno de temas morais como “aborto” e “ideologia de gênero”, "Deus, pátria e família", esconde a realidade de medidas que interessam à mão livre do poder econômico em detrimento à distribuição da riqueza que é produzida no suor da base da base da pirâmide.
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