Algumas verdades sobre o caso do Brasil e da Venezuela

O governo que causou a tragédia histórica na Venezuela se parece mais com atitudes tomadas e atitudes que tentou tomar o governo Bolsonaro, não com os governos petistas (sem passar pano, tenho várias críticas aos governos petistas) e também entendo que Lula nem sequer deveria estar nessa disputa. Sempre tenho afirmado que deveríamos ter outra escolha em vez dos dois que polarizam as atenções nesse segundo turno de eleição presidencial.

Dito isso, é importante entender que há muitas semelhanças entre Bolsonaro e Chávez. Os dois tinham histórico de serem militares insubordinados. Outras semelhanças: ataques à instituições da República, querer dissolver o Supremo Tribunal, aparelhar os sistemas do Estado para facilitar a corrupção e a impunidade, colocar sigilos, encher o governo de militares - a diferença entre eles é que Chávez conseguiu mais.

Em um país 100% dependente do petróleo, sem agricultura diversificada e sem indústria consolidada e tampouco agricultura capaz de abastecer a demanda interna, afundou o país. Seu bem mais precioso, o petróleo, é uma commoditie altamente volátil no mercado internacional. Além disso, ao ser submetido aos bloqueios econômicos estabelecidos pelo “xerife” do mundo chamado Estados Unidos, a Venezuela ficou ilhada, com as principais linhas de abastecimento cortadas. Importante frisar que EUA, com uma fome insaciável por petróleo, sempre quiseram ter nas suas mãos os governantes venezuelanos, para negociar preços bem amigáveis pelo produto.

Protesto em Caracas: Militares chegaram ao poder, pelo voto, em 1998 e nunca mais saíram

Terça-feira (11/10), o presidente contradisse declarações anteriores e atribuiu à imprensa a divulgação da proposta de aumentar de 11 para 15 os assentos na corte. Caso isso ocorra, Bolsonaro indicaria mais quatro ministros, com os dois que já indicou passaria a ter seis votos na Corte. Somado a isso, as bancadas formadas por parlamentares da direita, na Câmara e no Senado, assegurariam ao presidente, caso reeleito, amplos poderes para fazer livremente o que quiser.

Ainda assim não há como ocorrer no Brasil o que houve na Venezuela. Os cientistas políticos citam que no Brasil as instituições, embora abaladas depois de bombardeadas durante 3 anos e 10 meses do atual governo, ainda são bem mais fortes em relação à Venezuela. A oposição se afirmou ao também eleger um número expressivo de representantes para o Congresso e o STF também tem amparo para se manter de pé.

Em outro ambiente, a economia Brasileira é colossal e muito diversificada. Ao menor sinal de risco de prejuízos frente às ações políticas de Brasília, os donos do capital rapidamente se movimentariam no sentido de garantir o establishment. Um dos graves problemas é o gosto pelo poder. Militares, depois que ascendem à cadeira imperial não gostam de deixa-la. É exatamente o que ocorre na Venezuela hoje e ocorreu no Brasil entre 1964 e 1985.

Sempre quis saber como, mesmo com tamanha desgraça, os ditadores venezuelanos conseguiram se sustentar no poder. Chaves foi eleito democraticamente em 1998 e permaneceu no cargo até sua morte em 2013. Mauduro foi o sucessor, mas como continou lá? 

Quem deu a resposta foi um antigo comerciante venezuelano que encontrei em recente viagem a Santiago, Chile: “El gobierno de Chávez empezó a repartir bonos, cada vez daba más bonos a la gente y cuando veíamos, no teníamos trabajo, no teníamos nada más que dependencia del dinero público, pero no había nada para comprar en los supermercados”.  Dependência de bolsas, auxílios e bônus é um assunto que o governo brasileiro sempre incentivou. Começou com o governo do PSDB, recrudesceu no governo do PT e agora virou um descalabro sem tamanho. 

Em resumo, o Brasil tem mais saídas para uma eventual crise institucional agravada por algum governo desvairado, seja de direita ou esquerda. É bom lembrar que o empobrecimento se deu na Venezuela não só pela má gestão em si, mas pela concentração do trabalho na área petrolífera e esquecimento total de outras atividades econômicas na indústria, comércio, agropecuária, serviços, dentre outros ramos.

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