Já parou para pensar o seu verdadeiro lugar na pirâmide social?

As discussões polarizadas por causa da eleição estão matando o prazer de uma boa conversa. Por boa conversa, entendo que é preciso haver o papel divergente, para o equilíbrio. Mas desde que algumas pessoas decidiram relegar ao status de inimigo quem não pensa igual, o diálogo foi assassinado. Semana passada presenciei uma discussão permeada pela ignorância. O desconhecimento é assustador.

Cabe perguntar, qual tem sido o papel da escola na atualidade? A “filosofia” de mídia social e grupos de fofocas e memes no celular não pode substituir bons livros. A malfadada resenha dos dois amigos que, por pouco não terminou em vias de fato e agressão, versava a respeito de classes sociais, pasmem. Fui revirar meus arquivos para resgatar a explicação que enviei depois aos dois e que decidi publicar aqui também. Vai que lhe sirva para alguma coisa?

Quando os estudiosos falam de burquesia, eles se referem uma classe social. Para quem não sabe, classe social não é definida por renda e salário, mas sim pela posição que uma pessoa ocupa no processo produtivo.

E uma classe social burguesa, num processo produtivo, não é o caso de um homem ou uma mulher que tem um salário alto, seja no meio privado ou no serviço público. Isso porque se a pessoa recebe um salário, ela depende do seu trabalho. É uma pessoa que vende horas do seu conhecimento, suas habilidades e até a sua força física, no caso dos trabalhadores braçais.

Qualquer dos dois que parar de trabalhar, passa necessidade. Já o burguês é aquele que assina o chegue de quem trabalha. Para ficar num exemplo clássico, o jogador Neymar não é burguês. O burguês, no caso, é o sheik dono do Paris Saint-Germain Football Club (PSG). Ele vive dos rendimentos dos jogadores em campo.

Ocorre que em países como o Brasil, as pessoas têm a ilusão que a classe média, ou a classe A é um recorte da burguesia. Não o é. Na prática, é com a classe média que os mais pobres têm contato direto.

Essa publicação desvenda como a classe dos que se acham ricos é manipulada pela elite financeira e como essa classe subjuga e reprime os menos favorecidos da forma mais cruel que se pode imaginar

O cidadão que for dar um passeio em um shopping nunca vai encontrar lá qualquer um dos cinco bilionários do Brasil. Estamos falando de homens como Jorge Paulo Lemann, Joseph Safra, Marcel Herrmann ou Eduardo Saverin.

Assim como os demais bilionários eles estão blindados do contato com as pessoas comuns. São tão blindados que é bem provável que poucos dos que estão lendo esse artigo agora conheçam esses nomes e o ramo de atividade econômica em que eles atuam. Esses são os verdadeiros burgueses. Nós, longe do topo da pirâmide somos a classe média, os remediados ou apaniguados, os pobres e os miseráveis.

É muito evidente que um médico ou engenheiro que receba R$ 50 mil por mês é muito diferente de um trabalhador braçal, que recebe um mísero salário mínimo de R$ 1.212, sem ganho real desde 2017. O fato é que tanto o médico quanto o trabalhador braçal são da mesma classe social. Ambos vendem serviços.

Na classificação como classe média entra também aquele pequeno empreendedor que, apesar de assinar o pagamento de seus empregados, também precisa trabalhar muito. Isso ficou bem evidente durante a pandemia de covid-19 entre os anos de 2020 e 2021, quando foram adotadas medidas restritivas de circulação de pessoas para frear o avanço da infecção pelo coronavírus.

Percebam que os que mais gritaram contra as medidas foram justamente os pequenos e médios empreendedores. Foi um tapa na cara de quem se achava burguês, descobrir que se ficar sem trabalhar uma semana, um mês, um semestre, passava necessidade tanto quanto seus pobres empregados. Já, o burguês, para ele tanto faz parar tudo ou não. Ele poderia ficar até cinco anos em quarentena que isso não faria  a menor diferença.

Outra situação que diferencia bem os não ricos daqueles que verdadeiramente o são, é o poder político. Não é à toa que vemos empresários bem-sucedidos investindo em carreiras políticas. Chega um momento em que somente acumular dinheiro não basta mais. E só o dinheiro não compra poder político.

A grande burguesia consegue assegurar, a adesão de bancadas temáticas no Congresso Nacional. Investem milhões em potenciais candidatos. É por isso que de tempos em tempos escutamos noticiários a tratar de termos como "bancada do boi", "bancada ruralista" (agronegócio), "bancada da bala" (indústria de armas), "bancada evangélica" (pastores bilionários). Entretanto, você nunca escutou a respeito da "bancada dos médicos", "bancada dos professores", ou "bancada dos lojistas" ou "bancada dos advogados".

De forma geral, os brasileiros que formam a classe média precisam entender que estão distantes do topo da pirâmide social. A turma de cima é formada por grandes investidores em conglomerados de empresas, donos de bancos, donos de impérios do agronegócio no Brasil e no mundo. Vivem blindados em paraísos e no máximo o que se vê deles é uma foto em jornal.

Como a escola não trata disso e tampouco o Estado quer saber disso, falta a consciência de classe e sobra ódio aos menos favorecidos. O pobre que está no meio da pirâmide não consegue se ver como trabalhador. Se vê como burguês por ter um Land Rover Evoque ou uma Toyota Hillux. Na prática, como um pombo no poste, quer defecar na cabeça de quem está logo abaixo.

E isso explica muito do porquê o que se acha rico às vezes quer votar em projetos que beneficiam apenas o topo da pirâmide social, em detrimento a outro projeto que vai contemplar da metade da pirâmide para baixo. Em sua cegueira ignorante não consegue entender quando um projeto de governo não beneficia sua camada social, mas somente aquela bem acima. Ele acredita que pertence a essa camada. E muitos sonham em estar lá. 

Pessoalmente, já vi pessoas que não tem nem sequer uma bicicleta vociferando contra a proposta de taxar grandes fortunas. O sujeito não tem nem sequer um lote num cemitério qualquer e é contra a reforma agrária. Vive pendurado no rotativo do cartão de crédito, mas nem sequer sabe que o governo não atualiza a tabela do imposto de renda há quatro anos. Há quatro anos também o salário mínimo não tem ganho real, ou seja, valorização acima das perdas com a inflação. Não é à toa que nos últimos três anos aumentou o número de bilionários no país, ao mesmo tempo em que aumentou o número de pobres e miseráveis.

Quando há aproximadamente oito anos, a política econômica possibilitou uma maior circulação de dinheiro, surgiram coisas como “esse aeroporto está ficando que nem rodoviária”. Aqueles que se acham ricos burgueses, aquela turminha da classe média que defende a “meritocracia”, não gostou de ver pobre fazendo curso superior e nem tampouco gostou do fim da escravidão das empregadas domésticas. Cito como complemento importante a leitura de “Elite do atraso”, de Jessé de Souza. Esse livro é um verdadeiro tratado de como a classe dos apaniguados pelo sistema econômico brasileiro é manipulada e desconta suas frustrações nas classes que considera inferiores a ela.

O Brasil é um dos poucos países que não sobretaxam as grandes fortunas. E por grandes fortunas não se entende sua chácara, apartamento, o a BMW, ou aquela Chevrolet S10 que comprou com benefício concedido ao CNPJ de sua empresa. Vou explicar, conforme dados do IPEA/IBGE, o que é grande fortuna. 

Atualmente, um grupo de 1% dos brasileiros mais ricos concentra 44% da riqueza nacional. Temos 99% do total de 216 milhões de brasileiros brigando todos os dias para conseguir uma fatiazinha dos outros 66% da riqueza produzida no país. Escolha o seu lugar, defina suas escolhas nas eleições. Lembre-se que senso é bom, é de graça e cada um usa o quanto quiser para se posicionar na pirâmide.

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