Regular ou não regular? O que está em risco se não regular as mídias sociais?

Um amigo de longa data, por ocasião do Dia da Imprensa, questionou-me acerca da propalada regulação das mídias sociais que está em discussão agora no Brasil. Abaixo, a resposta que enviei ao amigo, acrescida de algumas outras observações.

A regulação não é uma situação assim, simples de se debater. Mas vamos lá. O que o governo tenta fazer não é “nos controlar”, ou “controlar o que queremos expressar” como você já deve ter escutado por aí. Pode ser que você entendeu de forma equivocada, ou te passaram de forma errada. 

- Primeiro, o Brasil tenta regular hoje com atraso, porque nos outros países isso já foi feito. A União Europeia já tem algo de regulação e até os Estados Unidos, que são muito permissivos em relação a isso, tendem a adotar medias emergenciais. 

- O que se quer fazer é obrigar as plataformas (Twitter, Face, Insta, Telegram) a identificar rapidamente usuários psicopatas que disseminam notícias falsas ou organizam grupos para dar tiro em crianças nas escolas e creches. 

- Mas por que isso? Hoje qualquer pessoa cria um grupo no WhatsApp, Telegram, e outras mídias publica o que bem entender, mesmo que seja uma situação totalmente perigosa e fica por isso mesmo. Para complicar as plataformas sempre alegam que a criptografia ponta a ponta não permite identificar e controlar quem troca mensagens terroristas. 

- Ademais, por causa de notícias falsas milhares de pessoas não estão se vacinando mais, nem vacinando crianças, trazendo de volta doenças erradicadas, paralisia infantil e sarampo entre elas. 

- Por causa de notícias falsas milhares deixaram de se vacinar contra a covid e são as únicas que ainda pegam a doença e vão para os hospitais. 

- Por causa de grupos protegidos nas plataformas tivemos uma onda de ataques às escolas, com morte de inocentes. O Telegram, por exemplo, se recusa a abrir para a polícia os grupos envolvidos nesses atos.

 - Por causa de notícias falsas tem gente defendendo ditadura no lugar na democracia.

 - Nós, que estudamos comunicação, temos uma noção exata do que é a Teoria do Caos. O medo cega as pessoas. A manipulação do medo faz com que pessoas se reúnam e uma horda enfurecida pode fazer muita loucura. Por isso, fake News, teorias conspiratórias sempre dão muita repercussão. Ocorre que de uns anos para cá, pessoas mal-intencionadas (tanto as de direita quanto as de esquerda) passaram a fazer uso político disso tudo.   

Se alguém aqui ainda não se deu conta sobre o alcance das mídias sociais os impactos sociológicos, deixo duas dicas de documentários acerca desse tema. O primeiro deles é "The Great Hack", na versão portuguesa "Nada é Privado: O escândalo da Cambridge Analytica". A outra indicação é O Dilema das Redes (2020), documentário lançado pela Netflix.  

Meio: "Ou as democracias assumem as rédeas sobre a nossa liberdade de debate ou quatro corporações vão privatizar o debate público"

Acrescente a tudo o que falei outro fator importante: Empresas biolionárias, chamadas de Big Techs, são as que definem o que as pessoas vão assistir ou não, por meio dos algorítimos. Um vídeo do "Meio" publicado recentemente definiu bem essa questão: 

"Nós precisamos regular as redes sociais. Isso não tem nada a ver com a liberdade de escrevermos o que quisermos. Tem a ver com três ou quatro empresas que decidem quais mensagens vão chegar a muita gente e quais mensagens vão ser escondidas. Ou as democracias assumem as rédeas sobre a nossa liberdade de debate ou quatro corporações vão privatizar o debate público". 

POR FIM, 

- Humberto Eco, renomado escritor italiano e filósofo resumiu bem a situação que vivemos nesse seculo XXI. Antigamente, o “idiota da aldeia” era aquele bocó que ficava nos botecos e pracinhas das pequenas cidades ou comunidades pregando suas ideias malucas. 

A internet deu ao bocó da aldeia (sem nenhum filtro ou regulação) o poder da comunicação com milhares de pessoas. O idiota da aldeia é aquele que tem solução fácil para tudo o que existe, mesmo as situações sociais e econômicas mais complexas que podem existir.

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