Onde ficamos, quando a conveniência dos economistas aparece acima da ciência e dos fatos?

Aprendi há um bom tempo a não acreditar em economistas. No fim dos anos 1990, quando saía da adolescência para enfrentar a dura realidade do mundo adulto, era comum que assistisse ao Jornal da Globo, sempre apresentado por volta da meia-noite, pela jornalista especializada em economia Lillian Witte Fibe. 

Ela apresentava o noticiário do fim de noite. O fez até os anos 2000. Era bem conhecida, pois antes ancorou o Jornal Nacional ao lado do então jovem William Bonner. Fazendo caras e bocas, Lillian apresentava um verdadeiro resumo de filme de terror sobre a economia brasileira. Duvido que quem a assistisse dormisse em paz, por mais troncho que fosse. 

A falta de sincronia entre o que prevê os economistas e o que se concretiza no dia a dia das pessoas forma um cenário de descrédito e manipulação da opinião

Demorou um tempão para que eu entendesse que o que a mulher da TV anunciava nunca acontecia. Fazendo caras e bocas, a jornalista dizia arizias, como afirmam os baianos do sertão, acerca do futuro econômico do Brasil. Uma verdadeira profeta do apocalipse. 

Mas nada do que ela profetizava, com seus grandes olhos amendoados destacando-se na tela, acontecia, e eu, jovem demais para entender “os trem”, costumava acordar de madrugada pensando que no dia seguinte não teria emprego e nem sequer o que comer.

Antes de mais nada é necessário entender que a comunicação tem responsabilidade social. O que um comunicador fala ou escreve pode intervir no que uma pessoa fará logo em seguida. Lembram-se de "Pescador de Ilusões" (1991), estrelado por Robin Williams?

Nada mudou

Agora, damos um salto de 25 anos. Estamos no fechamento do boteco de 2025 e nada do que os economistas profetizaram no começo do ano se concretizou. Em resumo, nada mudou quando se trata de pessimismo dos porta-vozes do apocalipse. Desde os tempos de Lillian Witte Fibe, eles não acertam uma. A contemporânea Rita Mundim (CNN e Rádio Itatiaia) é um exemplo clássico de informação que prioriza o caos em detrimento da razão.

Vejam esses dados de agora, neste fim de novembro. O país teve, no mês que passou, a menor taxa de inflação desde 1997. Em relação à Bolsa de Valores, alcançou 158.000 pontos, com um crescimento anual que passa dos 27%. E o dólar? Eles previram que iria a R$ 7. E está agora na casa dos R$ 5,30. No ano, a moeda estadunidense acumula queda de 13,28%. Os economistas, como sempre, erraram tudo. É como a turma da análise esportiva, que, na sexta-feira, diz como vai ser a rodada no fim de semana, dá tudo ao contrário e, na segunda-feira, não admite que errou.

Faço um desafio a você. Pegue os jornais com os artigos de economia de dezembro do ano passado. Compare com a realidade de agora, primeiro de dezembro de 2025.

Teve “consultor” que orientou: “Pega seu patrimônio e transfere para dólar.” Esse é o resultado: perda de 13,28% de valor de capital no ano. Erraram no dólar, erram na inflação, erraram no desemprego, erraram nos efeitos do tarifaço do Trump. Em resumo, temos um problema estrutural. Em qualquer empresa, se um funcionário errar tanto, ele é demitido por justa causa. E quem vai demitir os economistas?

É fato que, do ponto de vista macroeconômico, há muitos problemas. A dívida pública do governo Lula é um problema grave a ser corrigido. R$ 30 bilhões não é uma brincadeira. A taxa de juros precisa ser revista. Não é admissível pagar taxas tão altas, visto que estudos sérios apontam que o Brasil suporta inflação na casa dos 5,5% anuais, e isso pode significar melhores condições de produção e investimentos.

E no fim…

No fim das contas, continuo convencido que muitas opiniões de economistas carregam menos ciência e mais conveniência. Por trás de previsões catastróficas, muitas vezes se escondem interesses pessoais, agendas de mercado e compromissos que nunca aparecem nas entrevistas. Por isso, desconfio sempre que alguém, de terno e gravata, tenta prever o futuro do país como se lesse um horóscopo. No máximo, acertam por acaso. E, quando erram, ninguém cobra a conta.


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