Jornada ao fim do mundo e experiência com uma economia em crise

Na segunda quinzena de agosto passei 15 dias de férias na Argentina, mais pontualmente, na belíssima cidade de Ushuaia, capital da província de Tierra del Fuego, também chamada de “a cidade do fim do mundo”, por ser a última do globo terrestre, na ponta do continente sulamericano. Em linha reta, de Ushuaia ao continente Antártico é menos de mil quilômetros. Aliás, é do porto em Ushuaia que se parte para a viagem ao continente gelado. 
Ushuaia também é chamada de "cidade do fim do mundo", por ser a última do continete sulamericano e a cidade mais austral do planeta

Voltar a Ushuaia, foi retomar uma viagem interrompida em 2020, quando passava férias na Patagônia e, depois de 20 dias, já na última semana de férias veio o lockdown por causa da pandemia de covid-19, fechou rodovias, portos e aeroportos. Com isso, eu e a esposa, Andreia, ficamos retidos no sul argentino por mais 22 dias até sermos repatriados em 8 de abril de 2020, com outros brasileiros e turistas e de outras nações. 
Ao centro, o imponente Monte Olivia, visto de qualquer lugar da cidade

Mas, ao retornar agora, deparamos com uma nação devastada economicamente. As medidas do governo Javier Milei, para domar a inflação atingiu principalmente a classe média. E a Argentina é um país de classe média.

Ingresso do Parque Nacional Tierra del Fuego: R$ 172 para passar o dia

Às voltas com uma inflação que no mês de julho acumulou 273% nos últimos 12 meses, os preços de tudo subiram tanto, a tal ponto, que nem sequer a classe média consegue comprar, como antes. A dívida pública é um problema persistente, limitando a capacidade do governo de investir em áreas essenciais. O peso argentino tem se desvalorizado significativamente, o que agrava a inflação e reduz a confiança dos investidores.

Dois câmbios
Há dois câmbios no país. No oficial troquei na cotação de R$ 1 a $ 174 pesos. No câmbio paralelo, era R$ 1 a R$ 240. Dólar no oficial 1USD a $ 970 e no paralelo, 1 USD a $ 1.300.
Paguei em um quilo de carne o equivalente a R$ 90. No Brasil, o corte equivalente, contrafilé, custa em média R$ 45. Uma simples entrada no Parque Nacional de Tierra del Fuego saiu a $ 30 mil pesos (cerca de R$ 176 por pessoa). 
Bosque no Parque Municipal do Cerro Martial é alternativa de lazer para turistas e nativos
Para os nativos, o custo era $ 20 mil (cerca de R$ 120) por pessoa. Estes são exemplos do custo de vida para o argentino médio. Nos supermercados era visível a decepção com os preços em alta. 

Uma rara exceção foi o excelente vinho argentino, cujos preços encontrei muito abaixo do que os brasileiros pagam nos supermercados. A exemplo, uma garrafa de Malbec reserva de Mendonza podia ser comprado ao equivalente a R$ 35. No Brasil, o mesmo vinho sai a cerca de R$ 120.

Ainda vale a pena?
Por fim, se a Argentina está mais cara para os nativos, mais caro ainda está para os estrangeiros que a visitam. Apesar disso, trata-se de uma viagem que vale, sim, o custo pela proximidade com o Brasil. Um voo para Buenos Aires tem duas horas e meia de duração, para Tierra del Fuego são mais duas horas e meia. Ademais, ter contato com o povo de outro país, com outra cultura, outra língua, é uma experiência incrível. E ter contato com os fueguinos é uma vantagem extra. São amistosos e recebem bem os brasileiros. Um viajante não volta do mesmo jeito de quando partiu. 

A visita à Patagônia argentina é um encanto. Ushuaia, com suas montanhas nevadas, culinária fueguina à base de cordeiro patagônico e frutos do mar vale cada centavo gasto. Voltaria quantas vezes pudesse. 

A América do Sul tem países com atrações imperdíveis, uma história rica, única, que no meu entendimento é muito valiosa. Já escrevi aqui sobre o Chile, repito sobre a Argentina e em breve espero escrever sobre outros países. Longe de qualquer rivalidade boçal, espero que os argentinos superem sua dificuldade momentânea e que nos recebam bem, como sempre o fizeram.
Ao fundo, o canal Beagle, que interliga os oceanos, Atlântico e Pacífico 

A cidade foi construida entre as montanhas nevadas e o canal Beagle
De Guarulhos (SP) a Buenos Aires são 2h30 de viagem e depois mais 2h40 de Buenos Aires a Ushuaia



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